quarta-feira, 26 de outubro de 2016

1942-43 - Descobri que éramos o Mal a ser perseguido


Descobri que éramos o Mal

       Eu tinha 7 anos quando começou a 2ª guerra mundial. Nossa família "torcia" pela Alemanha, contra Inglaterra e França. Meu pai nasceu em Leipzig, na Saxônia alemã, e veio criança para o Brasil, tendo-se naturalizado brasileiro em 1941. Minha mãe era filha de austríacos. Pertencíamos ao Eixo, como se dizia...

       À noite escutávamos a rádio alemã, em ondas curtas, que transmitia às 8 horas um programa em português. Recordo-me bem de como indicavam os navios aliados torpedeados:  para cada navio afundado soava um gongo. Uma vez lembro-me de que houve mais de 100 gongadas.

       Em 1940, quando os alemães entraram em Paris, lembro hoje com certo constrangimento que corri até os vizinhos para avisar...

       Falei alemão até os 5 ou 6 anos, quando morreu a avó paterna, Ana Maria. Ela ensinou a mim e a minha irmã, três anos mais velha do que eu, porque não falava português. Minha irmã chegou a frequentar uma escola alemã, que deixou para estudar com as freiras italianas que instalaram colégio na cidade. Eu invejava sua lousa portátil, onde fazia exercícios e depois apagava com um paninho, ou era com a mão?

       Em 1942 (22/8) o Brasil declarou guerra ao Eixo. Nós nos sentíamos brasileiros, por isso não nos achávamos ameaçados. Houve passeatas, e os alemães, italianos e descendentes foram xingados e suas casas marcadas com um enorme 5.ª (de 5.ª coluna, referindo-se aos inimigos internos). Inclusive a nossa.

       Em 1943 tentei entrar para o escotismo. Mas não me aceitaram, por ser filho de alemão...




Um comentário:

  1. Vivendo, e aprendendo, o que não sabia sobre meu pai e sua família, ascendentes...

    ResponderExcluir