por Nelson Nicolai
Os jovens de 16 anos já foram agraciados com o título de eleitor e a carta de motorista, esperando-se para breve o fim do serviço militar obrigatório e a imputação criminal para 14 anos ou menos. Deve-se, então, por coerência, estender o mesmo critério de mudanças à escolaridade em todos os níveis.
Hoje, a criança entra na pré-escola com 5 ou 6 anos, faz quatro anos de 1º grau entre os 7 e os 10 anos, a seguir outros quatro dos 11 aos 14 anos e finalmente três de 2º grau entre os 5 e 17 anos. Aos 18 anos, se passar no vestibular, faz quatro ou cinco anos de faculdade. E depois o mestrado, o doutorado, o pós-doutorado, etc. Em muitos casos está com 35 anos, e só então se torna inteiramente produtivo para si e para a sociedade.
No 1º e 2º graus, as matérias são reproduzidas três ou quatro vezes com pequena variação ou aprofundamento, como se criança/jovem tivesse limitações psicobiológicas que impedissem a aceleração ou a antecipação dos estudos.
Limitando o tempo e adequando os programas oficiais (por que desapareceram?), pode-se ganhar até três anos, que representariam economia de tempo e dinheiro e profissionalização mais cedo. Por isso propomos novo cronograma de estudos:
1º grau: 7, 8 e 9 anos, e 10, 11 e 12 anos;
2º grau: 13 e 14 anos;
3º grau: dos 15 aos 19 anos.
Intelectualmente, a criança e o jovem têm condições de acompanhar os estudos (enxugados com racionalidade). Emocionalmente também, se a família, a sociedade e o Estado contribuírem.
A informática, aplicada atualmente desde os 3 anos de idade, permitiria substituir a quantidade pela qualidade de informação nas ciências humanas. A criança/jovem seria dotada com um visão de conjunto crítica, em vez de acumular fatos pulverizados.
Para isso dever-se-ia repensar o 3º grau. As faculdades de filosofia seriam reservadas exclusivamente para a preparação de cientistas/pesquisadores, com maiores exigências de acesso. E as escolas normais e faculdades de educação, com ênfase bem maior do que antigamente na didática, preparariam professores para o 1º e o 2º graus, incluindo o ensino técnico.
Fundamental também, com ou sem reformas, é expurgar dos quadros de professores os analfabetos funcionais ou incompetentes, depois de submetê-los a uma espécie de exame-de-ordem, com poder de cassação de diplomas e até de registro das faculdades mais citadas. Além disso, os livros escolares devem ser reavaliados com rigor, para proibir textos mal escritos ou com erros grosseiros, tomando-se o cuidado de evitar todos os vieses corporativos ou econômicos.
A objeção mais comum a esta proposta será: se a escola está uma calamidade, como se pode pensar em diminuir a escolaridade? A resposta é bem simples: se um jovem brasileiro estuda onze anos e não aprende nada, ou muito pouco, pelo menos com a reforma ele gastaria menos tempo e provavelmente não aprenderia menos.
***
Em seguida, reproduzo trechos sobre assuntos correlatos de minha pequena obra de memórias:
"Nas últimas décadas, o desapontamento com a instrução – logo, com o livro – que manteve dezenas de milhares de jovens praticamente no mesmo nível de emprego apesar de seus novos e caros diplomas, seria uma explicação, se a atitude de prevenção não fosse antiga e muito arraigada no pensamento popular.
O preconceito, curiosamente, convive com a glorificação do livro. Ou será que este só existe na imaginação dos literatos e publicistas dos últimos quinhentos anos, ansiosos em enaltecer os produtos de seu trabalho?"
"Não seria mais compensador para a cultura se se eliminassem os testes de vocação, que raramente são confirmados com o tempo, e o 2º grau tivesse um currículo prático bem amplo, para permitir que o jovem descobrisse aos poucos aquilo que realmente gostaria de fazer?"
[trechos extraídos de meu livro ainda inédito:
TESOURO DOS REMÉDIOS DA ALMA
ou Reminiscências de um autor menor e relação
das peregrinações de um aprendiz de bibliólogo,
em busca de livros antigos, estimados ou curiosos]
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