Descobri que éramos o Mal
Eu tinha 7 anos quando começou a 2ª guerra mundial. Nossa família "torcia" pela Alemanha, contra Inglaterra e França. Meu pai nasceu em Leipzig, na Saxônia alemã, e veio criança para o Brasil, tendo-se naturalizado brasileiro em 1941. Minha mãe era filha de austríacos. Pertencíamos ao Eixo, como se dizia...
À noite escutávamos a rádio alemã, em ondas curtas, que transmitia às 8 horas um programa em português. Recordo-me bem de como indicavam os navios aliados torpedeados: para cada navio afundado soava um gongo. Uma vez lembro-me de que houve mais de 100 gongadas.
Em 1940, quando os alemães entraram em Paris, lembro hoje com certo constrangimento que corri até os vizinhos para avisar...
Falei alemão até os 5 ou 6 anos, quando morreu a avó paterna, Ana Maria. Ela ensinou a mim e a minha irmã, três anos mais velha do que eu, porque não falava português. Minha irmã chegou a frequentar uma escola alemã, que deixou para estudar com as freiras italianas que instalaram colégio na cidade. Eu invejava sua lousa portátil, onde fazia exercícios e depois apagava com um paninho, ou era com a mão?
Em 1942 (22/8) o Brasil declarou guerra ao Eixo. Nós nos sentíamos brasileiros, por isso não nos achávamos ameaçados. Houve passeatas, e os alemães, italianos e descendentes foram xingados e suas casas marcadas com um enorme
5.ª (de 5.ª coluna, referindo-se aos inimigos internos). Inclusive a nossa.
Em 1943 tentei entrar para o escotismo. Mas não me aceitaram, por ser filho de alemão...